Viver no Interior é sinónimo de ser diferente, é sinónimo de ser corajoso, é sinónimo de bravura. Viver no Interior é viver longe dos grandes centros, mas ao mesmo tempo viver perto de tudo. O Interior continua a ser a terra onde são feitos os sonhos para uns, os corajosos e terra onde não existem oportunidades para outros, que à sua medida são corajosos por tentar a sorte longe das suas raízes.
“Eles falam, falam, falam falam, mas a verdade é que eu não os vejo a fazer nada. Fico chateado, com certeza que fico chateado”. Quem não se lembra deste skecth de Ricardo Araújo Pereira para os Gato Fedorento? A verdade é que o Interior continua a ser o local de que tantos falam, mas ninguém faz nada, que tantos gostam, mas que ninguém quer visitar. E eu, com certeza que fico chateado.
É fácil afirmar que o Interior precisa de ajuda, que têm de existir políticas de discriminação positiva, mas a verdade é que a linha que divide o nobre Interior, do agitado litoral está cada vez mais exacerbada. As barreiras são por demais evidentes. Continuamos a viver num país com dois pesos e duas medidas, um país completamente desigual. Temos a infelicidade de viver demasiado à Beira, longe demais de quem manda para incomodar ou chatear.
De Lisboa apregoa-se que as políticas têm de mudar. Deste lado de cá continuamos com a autoestrada mais cara do país, continuamos com a universidade mais improvável de todas que luta diariamente contra um subfinanciamento crónico. Sim, com certeza que fico chateado! Nestas condições é preciso remar, e muito, contra a maré que tende em nos empurrar cada vez mais para o marasmo.
Uma viagem de ida e volta à capital do país requer um investimento de 85 euros (estimativa), o mesmo, claro está, acontece da capital para o interior, como é possível cativar as pessoas a visitar a nossa região? É incomportável. Não admira que preparar eventos na nossa região à base do voluntariado e da boa vontade do trabalho gratuito dos jovens seja uma autêntica missão com contornos labirínticos. O UBIMedia- Núcleo de Estudantes de Ciências da Comunicação da Universidade da Beira Interior, do qual sou atualmente presidente, irá realizar (na data da saída desta publicação) a terceira edição das suas Jornadas. Durante três dias vários profissionais reconhecidos da área do Jornalismo e da Comunicação Estratégica passam pela Universidade (que recorde-se vive sob um subfinanciamento crónico).
Este é o evento “grande” do mandato e só foi possível devido a muito esforço e trabalho voluntário da parte dos estudantes. Conseguir grandes nomes nacionais, não é fácil, não é fácil cativar ninguém a visitar a nossa região e é ainda mais complicado conseguir um orçamento que permita cobrir a totalidade das despesas decorrentes de uma deslocação Lisboa/Porto- Covilhã.
O Interior não pode continuar a ser o local dos corajosos, a coragem para acreditar e para lutar é característica das nossas gentes bravas, contudo, não é suficiente para lutar contra o desigual. O Interior não pode continuar a ser o local de que tantos falam e dos quais eu não vejo a fazer nada. Enquanto se continuar a contribuir para um país cada vez mais desigual, não iremos conseguir rentabilizar as nossas potencialidades, potencialidades essas que são únicas.